Quase um ano após a revelação do caso do menino de dois anos que teve 31 agulhas inseridas pelo corpo na Bahia, o caso continua sem definição na Justiça, que ainda não decidiu se os acusados serão submetidos à júri popular.
A criança, contudo, três cirurgias depois, leva uma vida normal, e a família vive em melhores condições, proporcionadas por doações de pessoas sensibilizadas pelo drama que viveram, confome constatou a equipe do Fantástico.
A funcionária pública Marinalva Souza, vizinha da família, não gosta nem de lembrar dos gritos que ouvia de sua casa. “A gente acordava no meio da noite, uma, duas da manhã, com aqueles gritos mesmo de pânico do menino”, afirma.
Dezembro de 2009, Ibotirama, oeste da Bahia. As dores misteriosas foram descobertas em um raio-x. No corpo do menino havia 31 agulhas de costura. A maioria entre o fígado, os pulmões e o coração.
Levado às pressas para Salvador, ficou quase três meses na UTI e passou por três cirurgias. Procedimento de alto risco para uma criança de dois anos e sete meses.
Os médicos conseguiram retirar 22 das 31 agulhas. Nove ainda permanecem no corpo dele, mas, segundo os médicos, não ameaçam nenhum órgão vital.
"Tem uma na perninha dele, tem uma na coxinha, tem uma na ponta da costela, aqui em cima. No dia 7, estou levando ele pra Salvador pra fazer revisão e ver o que o doutor vai falar sobre essas agulhas”, disse a mãe, Maria Souza Santos.
Dar carinho, ter o caçula nos braços. O que mais pode desejar uma mãe depois de ver o filho entre a vida e a morte? “Meu filho está sendo um presente muito maravilhoso que Deus me deu de volta, de novo", afirma.
Doações ajudaram família a se reerguer
E não foi só a fé em Deus e o esforço dos médicos. Dona Maria e o filho tem muito a agradecer. A casa da família não tinha piso, nem banheiro e apenas dois quartos para acomodar oito pessoas. Bem diferente de agora.
A criança ganhou brinquedos depois que saiu do hospital, presente dos moradores de Ibotirama. Ganhou também um quarto novo, onde dorme com um dos irmãos. A casa tem mais quatro quartos, banheiro, uma sala, cozinha. Ficou mais confortável com a reforma paga por um empresário da cidade, que se comoveu com o drama.
Quase um ano depois, a Justiça de Ibotirama ainda não decidiu se os acusados vão a juri popular. O principal acusado é o ex-padrasto da criança, Roberto Carlos Magalhães. Ele foi preso há pouco mais de um ano e confessou o crime à polícia. Na semana passada, fugiu da cadeia. Quatro dias depois foi recapturado.
Na confissão ao delegado, Roberto Carlos disse que não agiu sozinho e acusou a ex-amante, Angelina dos Anjos, de também ter participado do crime.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, Angelina dos Anjos estaria envolvida em rituais de magia negra e teria orientado o ex-amante a espetar as agulhas no corpo do menino. Ela responde ao processo em liberdade e mora numa casa, a dois quarteirões da casa onde mora a família da criança.
Angelina também nega envolvimento.
A psicóloga Gleice Barroas, que acompanha o menino, diz que até agora ele não apresentou sintomas relacionados à violência que sofreu.
“Essa violência sofrida, a gente não consegue apagar da lembrança dele. Mas, com acompanhamento psicológico, isso vai se estender por alguns anos, porque ele é muito pequeno ainda, ele vai conseguir reestruturar a vida dele".
Não poderia ser melhor a notícia, principalmente, pra quem conviveu com esse drama que chocou o Brasil.
“Passado uns dias, eu estava aqui e ele chegou e falou: ‘Nalva, minha mãe tá chamando você lá em casa’. Aí eu olhei pra ele assim e me lembrei que a gente esperava ele morto. De repente, ele estava ali me dando um recado. Abracei ele", contou Marinalva Souza.
"Ela chegou aqui em casa chorando, eu falei: ‘Nalva, você tá chorando, Nalva, pelo amor de Deus’. E ela falou: ‘Eu tô tão emocionada’”.
“Foi muito bom", concluiu Marinalva, emocionada.