Luiz Gonzaga em Coremas - Benedito Antonio Luciano *
Em meio às nossas conversas sobre assuntos relativos ao sertão paraibano, o colega Verneck Abrantes falou sobre a presença do cantor e compositor Luiz Gonzaga na cidade de Coremas – PB, em 29 de março de 1979, quando acompanhado do então Ministro do Interior, Mário Andreazza, fizeram uma visita ao Núcleo do Projeto Sertanejo instalado naquela cidade.
Segundo Verneck, o Núcleo do Projeto Sertanejo de Coremas foi instalado no dia 15 de agosto de 1978, aproveitando as instalações do acampamento do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS, mediante convênio Minter/Sudene/DNOCS, no governo do Presidente Ernesto Geisel, tendo como objetivo atender as demandas dos agropecuaristas sertanejos.
Ainda de acordo com Verneck, a chegada do Ministro e de Luiz Gonzaga foi memorável, pois eles vieram de Recife - PE a bordo de um pequeno avião com hélices e o piloto conseguiu aterrissar no campo de pouso do DNOCS, depois de uma chuva de 120 mm que tinha ocorrido no dia anterior, alagando todo o município, deixando o referido campo de aviação em condições precárias.
Antes de aterrissar, o piloto teria dado várias voltas por cima da cidade de Coremas e das duas bacias hidrográficas dos açudes Estevam Marinho/Mãe D’ Água, vendo, do alto, a multidão no acampamento do DNOCS à espera da comitiva.
Depois de alguns voos rasantes sobre o campo de pouso, o piloto teria dito que as condições não pareciam boas, mas o ministro mandou que, mesmo assim, o piloto aterrissasse, o que foi feito com grande perícia e sucesso.
Do campo de pouso, o ministro e sua comitiva se dirigiram ao Núcleo do Projeto Sertanejo, onde foram recebidos por uma equipe de segurança, várias autoridades, muitos agricultores, jovens estudantes, senhoritas e senhoras, prefeitos regionais, deputados estaduais, vereadores, o juiz, o padre e o delegado, compondo a multidão curiosa.
E quando Luiz Gonzaga desceu do carro, muita gente correu para o seu encontro, ficando o ministro com poucas pessoas em torno dele, instante em que Mário Andreazza disse em tom de brincadeira: “Seu Luiz, a autoridade aqui sou eu”. Muitos riram e descontraído, Luiz Gonzaga fez brincadeiras com um e com outro, contou piada, atendeu pedidos para tirar fotografias, conversou sobre as chuvas e concedeu entrevista para um serviço de alto-falante (difusora) local.
Depois de cumpridos o cerimonial e as formalidades inerentes à visita do Ministro, Luiz Gonzaga pegou a sanfona, botou o chapéu de couro e cantou “A Volta da Asa Branca”. Em seguida, emendou com a música “Projeto Sertanejo”, sendo muito aplaudido.
Depois dos comes e bebes, ele entrou no carro junto com o Ministro com destino ao campo de aviação e, de lá, decolaram, sobrevoando a cidade por duas vezes, antes de seguirem com destino a Recife.
Recentemente, em conversa informal com o conterrâneo José Neudo de Sousa, um dos fundadores da Casa da Cultura de Coremas e autor da letra do Hino de Coremas, essa não teria sido a primeira visita de Luiz Gonzaga àquela cidade.
Sem precisar a data, ele relatou que, embora muito jovem, lembra de uma passagem do Rei do Baião por Coremas. Naquela oportunidade, devido à hospitalidade como fora acolhido, ele resolveu permanecer na cidade por vários dias.
Talvez venha daí a referência saudosa a Coremas e Mãe D’ Água na gravação da música “Sanfoninha choradeira”. Não exatamente na letra da canção, composta por Gonzaga e João Silva, mas sim nos floreios conclusivos feitos por Elba Ramalho e por Luiz Gonzaga.
* Benedito Antonio Luciano é professor Titular do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.