Há pessoas dotadas de talento especial para contar causos. Geralmente, pessoas assim incorporam um personagem e, por intermédio dele, as estórias são contadas, umas baseadas em fatos reais e outras originárias da criação imaginativa dos narradores.
No Brasil, há vários exemplos de exímios contadores de causos. Uns se tornaram nacionalmente famosos pela exposição nos meios de comunicação de massa: rádio, discos e televisão. Outros, inéditos nesses meios, promovem a descontração em rodas de conversas informais entre amigos.
Antes de a televisão brasileira se tornar o grande meio de comunicação que é hoje, contadores de causos ficaram famosos como humoristas por seus discos gravados e veiculados pelas ondas do rádio, só para citar dois exemplos: Barnabé, personagem interpretado pelo paulista João Ferreira de Melo, e o Coronel Ludugero, personagem interpretado pelo pernambucano Luis Jacinto Silva.
No rádio, teatro e televisão, dentre os grandes contadores de causos, destacou-se o multitalentoso artista brasileiro Chico Anysio: humorista, ator, comentarista, compositor, diretor de cinema, escritor, pintor, radialista, roteirista, criador de personagens e fazedor de filhos.
A capacidade de Chico Anysio criar personagens era impressionante. Um desses personagens, Pantaleão Pereira Peixoto, era um caçador aposentado que vivia sentado em uma cadeira de balanço, contando estórias, tendo como companhia a sua esposa Tertuliana e um filho adotivo, meio abobalhado, apelidado de Pedro Bó.
O engraçado era que ao terminar o relato de um causo mirabolante, sempre iniciado em 1927, e cada causo mais mirabolante que o outro, Pantaleão perguntava à sua mulher: “É mentira Terta?” e ela, para não contradizê-lo, respondia: “Verdade!”.
Dois grandes contadores de causos foram o escritor paraibano Ariano Suassuna, principalmente durante as apresentações de suas famosas aulas espetáculo, e o talentoso humorista paraibano Shaolim (Francisco Josenilton Veloso), falecido precocemente aos 44 anos, em 2016.
Atualmente, na televisão, três exímios contadores de causos são: Rolando Boldrin, Lima Duarte (Ariclenes Venâncio Martins) e Saulo Laranjeira (Saulo Pinto Muniz). O primeiro, natural de São Joaquim da Barra – SP, o segundo, natural do distrito de Sacramento – MG e o terceiro natural de Pedra Azul - MG.
Fora do âmbito televisivo, porém em plena atividade, podem ser destacados dois expressivos contadores de causos, ambos paraibanos: Jessier Quirino, natural de Campina Grande, e Zé Lezin (Nairon Barreto), natural de Patos.
Para além da oralidade, muitos causos hilários também podem ser encontrados em prosas, versos e letras de músicas como em algumas gravadas pelo paraibano Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho): “Falso toureiro”, “Sebastiana”, “A mulher do Aníbal”, “Falsa patroa”, “A mulher que virou homem”, “Filomena e Fedegoso”, dentre outras.
Todavia, necessariamente os causos não precisam ser hilários, eles podem ser fantásticos e até surrealistas, como nas letras de algumas músicas gravadas pelo pernambucano Luiz Gonzaga, o Rei do Baião: “Liforme instravagante”, “Siri jogando bola”, “Dezessete légua e meia” e “Mula preta”.
Com efeito, em todas as situações, além do inusitado da narrativa, o que torna um causo interessante é forma como ele é contado ou cantado. E isto requer talento.
*Benedito Antonio Luciano é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.
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