Ao longo do tempo o arco-íris vem exercendo sobre a terra seu óptico poder de transformar a dispersão da luz em gotículas de água suspensas na atmosfera em um arco colorido com as cores do espectro solar, entretanto só a partir do aparecimento do homem, a linguagem visual do fenômeno óptico/meteorológico e a linguagem verbal, ao se fundirem com o pensamento mítico, no seio da criação artística, induziram o encantamento a um transbordamento estético, com significados que abastecem a aparente ingenuidade dos mitos do pensamento selvagem, enriquecem o repertório dos poetas da vida e dos magos da palavra que utilizam o literário para descobrir-se e ultrapassar-se.
Embora o visual quanto ao significante pareça imutável, as variações no local da aparição e a morada constante ao pé das cachoeiras concedem ao arco-íris o conceito de vida própria, virando mito de muitas tribos indígenas e mote de poetas ao redor do mundo.
O visual e o sentido, o texto e o contexto, a palavra que nomeia e o nomeado interagem na construção de outras palavras absolutamente novas, quer seja em sentido metafórico, ou pela força da construção híbrida: um arco que atira flechas coloridas sobre as mazelas humanas, o arco-celeste, o arco-da-aliança de Deus com o homem, o arco-da-chuva, o arco-da-velha. A metade da circunferência perfeita, onde não se descobre começo nem fim: as extremidades, ao abraçarem o interior da Terra, ratificaram o mistério da criação.
“Eu havia feito um poema sobre o sol,
surgiu a chuva, e ela me ensinou poemas de arco-íris”.
A indignação de Keat, poeta inglês, por existir explicação para um fenômeno tão belo e envolto em misticismo, chegando a dizer que o físico Isaac Newton destruiu a poesia do arco-íris, não se coaduna com o espírito artístico: ele vai além do cientista, ignora o desencanto do arco-íris na mesa do laboratório, descobre-lhe novos caminhos carregados de valores semânticos nascidos e replasmados ao longo de uma complexa vida literária, concedendo-lhe um conceito de múltiplos sentidos.
Para Cecília Meireles “há um arco-íris ligando o que sonha e o que entende – e por esta frágil ponte circula um mundo maravilhoso e terrível, que os não iniciados apenas de longe percebem, mas de cuja grandeza se vêem separados por muralhas estranhas, que tanto afastam como atraem”.
As sete cores do arco-íris, sete liras da magia, como um mundo tão longe e tão perto, atrás da porta, que possui poderes sobre o tempo, que nos remete à infância, como interface da ingenuidade, que nos remete ao mistério que cultivo em minha vida cheia de esperanças, cores como se letra e música de uma canção perfeita, onde a solidão do poema mudo se abastece de sete notas musicais, atenuando a sordidez da espera:
“Vermelho, da paixão com que vivo
Laranja, do sabor por vezes relativo
Amarelo, do sol do meu país
Verde, dos campos que olho daqui
Azul, do céu e cor de mim
Anil, para tantos indistinto tal como a minha canção
Violeta, curta, fria, como a noite sem ilusão”
Na Europa dizem que há potes de ouro nas extremidades do arco-íris, no Brasil corre a lenda de que quem o atravessa muda de sexo, mitos, mas posso garantir que bom mesmo é verbalizar o arco-íris, aprisionando-o numa antologia de linguagem mágica, ainda que as cores nem sempre consigam mudar os versos em preto e branco da existência.
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, membro efetivo da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e ocupa a cadeira 31 da ACLER – Academia de Letras de Rondônia.
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